DO DESEJO DE APRENDER
As crianças gostam de aprender. O que não quer dizer que
elas gostem das escolas. As escolas são, frequentemente, lugares onde elas são obrigadas
a aprender, sob pena de punições, aquilo que elas não querem aprender. Por isso,
elas e nós nos esquecemos rapidamente do que tentaram nos ensinar contra a
nossa vontade.
Sabedoria de um velho ditado caipira: “É fácil levar a égua
até o meio do ribeirão. O difícil é obrigar a égua a beber a água”. A gente
aprende aquilo que deseja aprender. É o desejo que desperta em nós a inteligência.
O filósofo Aristóteles disse: “todos os homens têm, naturalmente, o desejo de
aprender”. Ele estava errado. Vou corrigi-lo: “Todos os homens, enquanto
crianças, têm naturalmente o desejo de aprender”. O que dá às crianças desejo
de aprender? Primeiro é a curiosidade. As crianças acham as coisas do mundo
muito interessantes e querem saber por que elas são do jeito que são. Pra que
serve isso? Pra nada. Apenas pelo prazer: matar a curiosidade. Depois elas
querem aprender para adquirir competências. A criança quer aprender a andar de
bicicleta, a descascar laranja, a abrir a porta com a chave – para ter o
delicioso sentimento: “Eu posso!”. É um sentimento de poder. E, por fim, elas
querem aprender a brincar. Controlar a bola, armar quebra-cabeças, jogar
damas...
Adultos, continuam vivos em nós os mesmos impulsos que levam
as crianças a aprender. A menos que os matemos...
TEXTO RETIRADO DO LIVRO: PENSAMENTOS QUE PENSO QUANDO NÃO ESTOU
PENSANDO, DE RUBEM ALVES, PAGINA 82
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