terça-feira, 8 de maio de 2012

DESEJO DE APRENDER...




DO DESEJO DE APRENDER

As crianças gostam de aprender. O que não quer dizer que elas gostem das escolas. As escolas são, frequentemente, lugares onde elas são obrigadas a aprender, sob pena de punições, aquilo que elas não querem aprender. Por isso, elas e nós nos esquecemos rapidamente do que tentaram nos ensinar contra a nossa vontade.
Sabedoria de um velho ditado caipira: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é obrigar a égua a beber a água”. A gente aprende aquilo que deseja aprender. É o desejo que desperta em nós a inteligência. O filósofo Aristóteles disse: “todos os homens têm, naturalmente, o desejo de aprender”. Ele estava errado. Vou corrigi-lo: “Todos os homens, enquanto crianças, têm naturalmente o desejo de aprender”. O que dá às crianças desejo de aprender? Primeiro é a curiosidade. As crianças acham as coisas do mundo muito interessantes e querem saber por que elas são do jeito que são. Pra que serve isso? Pra nada. Apenas pelo prazer: matar a curiosidade. Depois elas querem aprender para adquirir competências. A criança quer aprender a andar de bicicleta, a descascar laranja, a abrir a porta com a chave – para ter o delicioso sentimento: “Eu posso!”. É um sentimento de poder. E, por fim, elas querem aprender a brincar. Controlar a bola, armar quebra-cabeças, jogar damas...
Adultos, continuam vivos em nós os mesmos impulsos que levam as crianças a aprender. A menos que os matemos...

TEXTO RETIRADO DO LIVRO: PENSAMENTOS QUE PENSO QUANDO NÃO ESTOU PENSANDO, DE RUBEM ALVES, PAGINA 82

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