PARA UMA AMIGA MÃE IRMÃ, QUE ESTÁ NO MEU CORAÇÃO. UMA PALAVRA DE CONFORTO AOS ENORMES AFASERES E DIFICULDADES QUE A CERCAM EM PLENA FÉRIAS.
HOJE, TE CONHECENDO BEM PATRICIA FERNANDES, SEI QUE SUAS FÉRIAS SERÃO AS MELHORES POSSIVEIS, PORQUE O SEU CORAÇÃO É MAIOR DO QUE O CÉU E SEI QUE, MESMO QUANDO ESTIVER CANSADA E DEITAR NO SEU TRAVESSEIRO, O TRABALHO REALIZADO VALERÁ A PENA. SEM ARREPENDIMENTOS. APENAS A GRAÇA E A FORÇA DADA POR UM DEUS QUE ACREDITO SER O SEU GUIA, COMO SEGUE O TEXTO ABAIXO.
AMO VOCÊS, PATRICINHA, PATRICIA, E MINI.
Uma velhinha de voz trêmula e pele cheia de rugas pediu: “Mestre, fale-nos sobre Deus...”
Mestre Benjamin fez silêncio. Olhou para o vazio. Vagarosamente, um sorriso foi-se abrindo.
“Quantas pessoas aqui na minha tenda estão pensando em ar?”, ele perguntou. “Por favor, levantem uma mão...”
Ninguém levantou a mão.
“Ninguém levantou a mão... ninguém está pensando no ar. Ninguém nem sabe direito o que é o ar. E, no entanto, todos nós estamos respirando. O ar é a nossa vida e não precisamos pensar nele e nem dizer o seu nome para que ele nos dê vida. Mas o homem que se afoga do fundo das águas só pensa no ar. Deus é assim. Não é preciso pensar nEle e pronunciar o seu nome. Ao contrário, quando se pensa nele o tempo todo é porque está se afogando...
“Que desejamos para os nossos filhos? Que eles sejam felizes. Sorrimos ao vê-los por aí a correr, a pular, a cantar, a brincar, pensando nas coisas de criança. Mas enquanto brincam e riem ele não pensam em nós. Se um filho, ao se levantar, viesse até você e o elogiasse, e agradecesse porque você lhe deu a vida e jurasse amor para sempre, e fizesse a mesma coisa na hora do almoço, e repetisse os mesmos gestos e palavras ao meio da tarde, e de noite fizesse tudo de novo, suspeitaríamos de que alguma coisa não está bem. O que desejamos é que eles gozem a vida sem pensar em nós. Quem pensa demais e fala demais sobre Deus é porque não o está respirando. A fala indica uma ausência. ‘Pensar em Deus é desobedecer a Deus. Porque Deus não quis que o conhecêssemos, por isso se não nos mostrou’ (Alberto Caeiro)”
Fez-se silencio. Foi quando uma lufada de vento entrou pela tenda fazendo balançar a lâmpada de óleo que pendia do teto.
“Deus é como o vento. Sentimos na pele quando Ele passa, ouvimos a sua música nas folhas das arvores e o seu assobio nas gretas das portas. Mas não sabemos de onde vem nem para onde vai. Na flauta, o vento se transforma em melodia. Mas não é possível engarrafa-lo. No entanto, as religiões tentam engarrafa-lo em lugares fechados a que elas dão o nome de ‘Casa de Deus’. Mas, se Deus mora numa casa, estará Ele ausente do resto do mundo? Vento engarrafado não sopra...”
Ouviu-se então o pio distante de uma coruja.
“Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê. Só se ouve o seu canto...
“Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração que pulsa como o nosso. Suspeita.. Nenhuma certeza. Fujam dos que têm certezas. Olhem bem: eles trazem gaiolas nas suas mãos. Os pássaros que têm presos nas suas gaiolas são pássaros empalhados. Ídolos.
“Deus nos deu asas, mas as religiões inventaram gaiolas.
“Tudo o que vive é pulsação do sagrado. As aves do céus, os lírios dos campos.. Até o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é uma música do Grande Mistério.
“É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontra-lo sem nome no assombro da vida.
“Reverência pela vida: é a forma mais alta de oração. Sem nome.. O nome de Deus não pode ser pronunciado...
“Não precisamos dizer o nome ‘rosa’ para sentir o seu perfume.
“Não precisamos dizer o nome ‘mel’ para sentir sua doçura.
“Muitas pessoas que jamais pronunciam o nome de Deus o conhecem como reverência pela vida.
“Há pessoas que se sentem religiosas por acreditar em Deus. De que vale isso? Os demônios também acreditam e estremecem ao ouvir o nome (Tiago 2:19). A pergunta não deveria ser ‘Você acredita em Deus?’, mas ‘Você se comove com a beleza?’ Deus nunca foi visto por ninguém ele se mostra na experiência da beleza.
“Os homens religiosos procuram Deus no invisível e no mundo após a morte. Quando alguém morre, eles repetem como consolo: ‘Deus o levou para si’. Então, enquanto vivo, ele estava distante de Deus? Deus é Deus dos mortos ou Deus dos vivos? Deus não mora no mundo dos mortos. Ele mora no nosso mundo, passeia pelo jardim. Deus é beleza. E se Ele ama o que é feio é só para torná-lo belo... Por isso ele ama os desertos: porque neles se escondem fontes..
“Quer ver Deus? Veja a beleza do sol que se põe, sem pensar em Deus.
“Quer ouvir Deus? Entregue-se à beleza da música, sem pensar em Deus.
“Quer sentir o cheiro de Deus? Respire fundo o cheiro do jasmim, sem pensar em Deus.
“Quer saber como é o coração de Deus/ Empurre uma criança num balanço, porque Deus tem um coração de criança, sem pensar em Deus.
“Há beleza demais no universo. Mas o tempo vai-nos roubando as coisas que amamos. Vai-se o arbusto, vai-se a montanha, vão-se os riachos cristalinos, vão-se as pessoas amadas, vamos nós...
O tempo é um monstro que devora os seus filhos. Fica a saudade. Saudade é a presença da ausência das coisas que amamos e nos foram roubadas pelo tempo. Quando se pronuncia o nome sagrado está-se afirmando que a beleza amada não está perdida no passado. Está escrito num poema sagrado: ‘Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás...’ (Eclesiastes 11:1). As águas dos rios são circulares, o tempo é circular, o que foi perdido volta, um eterno retorno... Deus existe para nos curar da saudade...
“Eu gostaria de dar um conselho: ‘Não sejam curiosos a respeito de Deus, pois eu sou curioso sobre todas as coisas e não sou curioso a respeito de Deus. Não há palavra capaz de dizer quando eu me sinto em paz perante Deus e a morte. Escuto e vejo Deus em todos os objetos, embora de Deus eu não entenda nem um pouquinho... eu vejo Deus em cada uma das 24 horas e em cada instante de cada uma delas, nos rostos dos homens e das mulheres eu vejo Deus...’ (Walt Whitman)
‘Sejamos simples e calmos como os regatos e as árvores, e Deus amar-nos-á verdor na sua primavera e um rio aonde ir ter quando acabemos’ (Alberto Caeiro)”
Ouvidas essas palavras, a velhinha sorriu para o Mestre Benjamin e fez um gesto com sua Mao, abençoando-o
TEXTO RETIRADO DO LIVRO: PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS, DE RUBEM ALVES
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