O PROBLEMA DE VER AS PESSOAS COMO MÁS
“Por fora, pareceis justos aos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e perversidade”
Mateus 23:8
Joshua procurou a terapia porque seu casamento estava desmoronando. Joshua era um religiosos devoto que desejava agir o mais corretamente possível. Se fazer terapia individual pudesse ajudar o seu casamento, ele certamente estaria disposto a tentar.
O problema que Joshua e eu enfrentamos logo no início da terapia foi o fato de que ele acreditava que sua mulher era a causadora de todas as suas dificuldades. Joshua insistia em acusar a mulher, contando como ela o havia desapontado com seu egocentrismo, como ela deixara de se comportar à altura do que prometera nos votos matrimoniais e estava destruindo o casamento. Joshua se negava a admitir sua parcela de responsabilidade na crise conjugal e sempre encerrava sua auto-avaliação com declarações como “ Mas eu me sinto bem. Se não fosse por causa dela, nem mesmo estaria aqui”.
Joshua se via como uma pessoa espiritualizada que havia dedicado anos aos estudos teológicos, a cultivar a sua fé e a ceder parte do seu tempo para auxiliar o desenvolvimento espiritual dos outros. Ele estava firmemente convencido de que se as pessoas praticassem as disciplinas espirituais não teriam problemas emocionais. Estava certo de que os problemas da esposa provinham do fato de ela não ter fé.
0joshua não conseguia entender os problemas psicológicos da mulher e nem de que forma ele contribuía para as dificuldades do casal. Ele acreditava que ceder a emoções humanas significava submeter-se aos desejos “da carne”, que ele considerava fundamentalmente maus. Joshua queria ser uma pessoa espiritualizada capaz de superar as fraquezas humanas. Criticava muito a mulher por ela ser incapaz de fazer o mesmo.
Tentei lhe mostrar que expressar as emoções não era sinal de fraqueza e sim uma demonstração de força. Mas esbarrava na suas certezas. “Minha fé se baseia em fatos, não em sentimentos”, ele me informava. “Colocar fatos e sentimentos no mesmo nível é uma violação da minha fé”. Como resultado, ele continuou a encarar os sentimentos da mulher como uma manifestação doentia.
Infelizmente, minha terapia com Joshua foi breve e malsucedida. É sempre difícil ajudar as pessoas que buscam a terapia afirmando que são os outros que precisam de ajuda. No entanto, uma das grandes barreiras para o sucesso da terapia de Joshua era a sua convicção de que a natureza humana é essencialmente má e que as pessoas espiritualizadas deveriam separar-se dela havia uma discordâncias básica entre nós. Eu estava tentando fazer com que ele entrasse em contato com a sua condição humana, e ele se empenhava em se afastar dela o Maximo possível.
O problema de acreditar que as pessoas são fundamentalmente más é que essa crença faz com que tenhamos vergonha de ser humanos. Criamos então um ser idealizado para fingir que somos diferentes. Quem considera a natureza humana desprezível e má precisa descobrir uma maneira de se livrar da parte nociva e tornar-se um ser puramente espiritual que vive acima de tudo isso. O problema dos fariseus era acreditar que eles não eram como as outras pessoas. Eles se achavam mais espirituais do que humanos.
Em outras palavras, acreditar que a humanidade é fundamentalmente má faz você querer se afastar dela o Maximo possível e só se associar àqueles que defendem idênticas convicções religiosas. Pessoas assim desprezam, mesmo que de forma inconsciente, aqueles que deixam de alcançar o seu nível de espiritualidade. Na terminologia psicológica, essa persona que eles criam é chamada de falso eu. O termos religioso é fariseu.
Na época em que Jesus contou a parábola do bom samaritano havia um forte preconceito racial entre judeus e samaritanos naquele tempo, os samaritanos eram considerados pessoas mas, e os fariseus, os sacerdotes e os religiosos judeus eram tidos como bons. O fato de o próprio Jesus ser judeu dava ainda mais força à mensagem da parábola. Hoje, os temos foram invertidos. “Bom” e “samaritano” referem-se a qualidades positivas, e ser chamado de “fariseu” tem uma conotação certamente negativa.
Com sua parábola, Jesus nos mostrou que as pessoas são boas ou mas devido ao s relacionamentos que estabelecem e não a algo que lhes é inerente desde que nasceram. A religião não nos tira da nossa condição humana, pelo contrário – a religião nos faz viver plenamente a condição humana.
PRINCÍPIO ESPIRITUAL: NÃO PODEMOS ESCAPAR DO NOSSO EU, MAS PODEMOS ENCONTRÁ-LO.
TEXTO RETIRADO DO LIVRO: JESUS, O MAIOR PSICÓLOGO DO MUNDO
PENSAMENTOS DA NOITE
“Por vezes suspeito que as coincidências sejam apenas manifestações da trama invisível de sentido que liga todas as coisas do universo. Parecem coincidência porque não vemos o avesso da tapeçaria”
Rubem Alves
“O poder mágico da palavra está em que ela pode trazer à vida aquilo que estava sepultado no corpo. ‘Creio na ressurreição dos mortos...’”
Rubem Alves
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