sábado, 7 de janeiro de 2012

A ditadura do ciúme e a perda da admiração



Os Erros capitais de uma relação doente – Parte 1

A ditadura do ciúme e a perda da admiração

A ditadura do ciúme

M.S. é uma mulher de 30 anos, afetiva, perspicaz, sociável, culta, com bom nível de autocrítica. Tinha uma mente analítica e observadora. Namorava havia sete anos, sonhava em se casar, mas seu sonho foi atropelado por uma traição, seguida de abandono. O impacto foi enorme, inaceitável para ela.
                Arquivou uma janela killer Power, poderosa, que furtava sua tranqüilidade , no centro de sua memória, na MUC. Como seu Eu não atuou como autor de sua história, não confrontou nem re reciclou essa janela solitária doentia. Ela leu-a continuamente e o fenômeno RAM registrou-a outra vez, formando uma plataforma killer que  começou a contaminar toda a matriz central de sua personalidade.
                Pouco a pouco, deixou de ser uma mente analítica e se fechou em torno de si mesma; desenvolveu uma mente “casulo”. E, sem que percebesse, começou a ter pelo menos momentaneamente flashes de uma mente coitadista. Colocou-se como vitima de um crápula e não como protagonista de seu script.
                Seu Eu tentou agir, mas usou técnicas ineficientes, alias, que sempre foram usadas por mulheres e homens ao longo da historia: tentar esquecer, distrair-se, rejeitar, negar ou, o que é pior, odiar seu ex-parceiro. Não sabia que o ódio destrói não o outro,mas seu hospedeiro.
                O fenômeno RAM se “deleitava” com as técnicas erradas. Como ele registra tudo que tem alto volume de tensão de maneira privilegiada, foi arquivando raiva, autopunição, autodestruição, sentimento de inferioridade. E qual a conseqüência? Apesar de ter tido uma infância feliz, adoeceu.
                As janelas killer solitárias não são suficientes para adoecer uma pessoa, ainda mais analítica, mas uma plataforma é capaz de encarcerar a emoção. Cuidado! A teoria das janelas da memória aponta que em qualquer época podemos adoecer se nosso Eu for relapso. Pessoas saudáveis podem se destruir. M.S. comprometeu sua autocrítica e sua autoconfiança. Passou a diminuir-se e deprimir-se.

A MAIOR VINGANÇA É SER FELIZ
                O Eu de M.S. deveria ter virado a mesa em sua mente, ter protegido sua emoção e filtrado os estímulos estressantes. Deveria ter mandado seu namorado “passear”. Deveria ter gritado muitas vezes para si mesma: “Quem perdeu foi ele e não eu”.
                Como uma querida amiga minha, que é brilhante jornalista, gosta de dizer: “ A maior vingança contra quem nos machuca é ser feliz”. E sob o ângulo da teoria do Eu como autor de nossa história está corretíssimo esse pensamento. O Eu de M.S. deveria ter se posicionado diariamente: “Agora é que vu ser feliz, me soltar, investir em meus projetos de vida”. Deveria sair de seu “casulo” e procurar as fontes de aletria e auto-realização. É difícil? Sim, eu sei! Mas é possível, se não formos conformistas. E, além disso, não há outra alternativa. Jamais uma mulher deveria perder sua liberdade por causa de um homem. Sem liberdade, a mente humana não respira, o amor se asfixia, a autoestima falece.
                Quanto mais ela usava as técnicas ineficientes, mais seu “ex” era arquivado dentro dela como um monstro. Tornou-se inesquecível, “almoçava” com ela e destruía seu apetite, “dormia” com ela e estragava seu sono. Se um “ofensor” se torna inesquecível, tenha certeza, ele vira uma doença para a pessoa ofendida. Esse é um mecanismo psíquico universal que pode adoecer seres humanos do Ocidente ao Oriente. Quem bate esquece, no entanto, quem apanha dificilmente esquece. Alguém que te machucou se tornou inesquecível para você?
                Os meses se passaram e, aparentemente sua angustia quanto à traição ficou em segundo plano. As janelas killer foram deslocadas da área central. MUC, para a periferia, a ME. Mas não se apagaram. Um ano depois ela volta a namorar. Com o novo namoro deveria viver dias felizes, mas os fantasmas alojados em seu inconsciente voltaram a aparecer.
                Fo atual namorado era fiel, amável, gentil e se preocupava com ela, muito mais do que o anterior. Mesmo assim, ela projetava nele os traumas que vivenciou. Vivia apreensiva com a possibilidade de uma nova traição. A plataforma de janelas killer gerou a ditadura do ciúme e esta, por sua vez, levou à paranóia do controle.
                O ciúme é um fenômeno interno, e o controle obsessivo é sua manifestação externa. Não acreditava em seu parceiro porque não acreditava em si. Queria controlar seus passos porque o ciúme controlava sua alma. A ditadura do ciúme a fazia ser completamente insegura, pisando em ovos, e a ditadura do controle, por sua vez, a fazia impiedosa, algos, ferina. A generosa mulher tornou-se uma mulher autoritária.
                Esse erro capital, próprio das relações doentes, a transformou em policial, fazia inquéritos, queria saber aonde seu namorado ia, com quem andava, o que fazia e o que falava. Ela perdeu sua liberdade e tentou levá-lo a  perder a dele. O praser deu lugar a intermináveis explicações e constantes atritos.

TEXTO DO AUTOR AUGUSTO CURY
LIVRO: MULHERES INTELIGENTES, RELAÇÕES SAUDÁVEIS

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