sexta-feira, 20 de abril de 2012

As araras iam brotando nos mourões de cerca



As araras iam brotando nos mourões de cerca
Petrônio Souza Gonçalves

Nasciam gritando,
fazendo aquela algazarra,
aquela festa de quem é feliz
e vive para festejar a vida.
Tingiam a tarde de um azul leve,
Pedaço de céu,
desses que nos faz voar,
em doces pensamentos de plumas e poesias.

domingo, 15 de abril de 2012

O RELÓGIO





O RELÓGIO

O colégio onde eu estudava, em menina, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral. Eu adorava aquilo, porem nunca fora convidada para participar, o que me trazia uma secreta mágoa.
Quando fiz onze anos avisaram-me que, finalmente, ia ter um papel para representar. Fiquei felicíssima, mas esse estado de espírito durou pouco: escolheram uma  colega minha para o desempenho principal. A mim coube uma ponta, de pouca importância.
Minha decepção foi imensa. Voltei para casa em pranto. Mamãe quis saber o que se passava e ouviu toda a minha história, entre lagrimas e soluços. Sem nada dizer ela foi buscar o bonito relógio de bolso de papai e colocou-o em minhas mãos, dizendo:
 - que é que você está vendo?
- Um relógio de ouro, com mostrador e ponteiros.
Em seguida, mamãe abriu a parte traseira do relógio e repetiu a pergunta:
- E agora, o que está vendo?
- Ora, mamãe, aí dentro parece haver centenas de rodinhas parafusos.
Mamãe me surpreendia, pois aquilo nada tinha a ver com o motivo do meu aborrecimento. Entretanto, calmamente ela prosseguiu:
- Este relógio, tão necessário ao seu pai e tão bonito, seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das rodinhas ou menor dos parafusos.
Nós nos entrefitamos e, no seu olhar calmo e amoroso, eu compreendi sem que ela precisasse dizer mais nada.
Essa pequena lição tem me ajudado muito a ser mais feliz na vida. Aprendi, com a maquina daquele relógio, quão essenciais são mesmo os deveres mais ingratos e difíceis, que nos cabem a todos. Não importa que sejamos o mais intimo parafuso ou a mais ignorada rodinha, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos.
E percebi, também, que se o esforço tiver êxito o que menos importa são os aplausos exteriores. O que vale mesmo é a paz de espírito do dever cumprido...


TEXTO RETIRADO DO LIVRO “E, PARA O RESTO DA VIDA...” DE WALLACE LEAL V. RODRIGUES

quinta-feira, 12 de abril de 2012

UM PASSARINHO MENINO




Obrigada, querido amigo Petros, pelos ensinamentos, pelas bênçãos, obrigada por ser você e existir na minha vida!
Galera, esse é um conto maravilhoso de uma pessoa maravilhosa que recebi...
Para uma passarinha menina!!! Com carinho, Petros

Um passarinho menino
Ele era diferente. Conversava com o vento. Às vezes, sumia no redemoinho que se formava à sua volta. Outras, brincava com as folhas das árvores espalhadas pelo pensamento.
Tempo depois, quando não conversava mais com os seus, começou a cantar e a se empoleirar no parapeito da varanda. Dizia ser passarinho. Até que um dia pousou no fio da antena e cantou a tarde inteirinha os trinados de tudo que é passarinho. Já ditardizinha, quando o sol se escondia por detrás do infinito, ele foi voando, voando, como se quisesse beijar o girassol do sol. Ele voava um vôo leve, macio, batendo apenas os braços e mexendo com as pontas dos pés. Foi indo, indo, até sumir, no amarelo do pincel que fazia colorido o azul do céu...   

terça-feira, 10 de abril de 2012

UM CONTO DE ENCANTO...

UM CONTO MARAVILHOSAMENTE PERFEITO DO MEU ETERNO AMIGO PETRÔNIO SOUZA GONÇALVES. ....

PETROS... ACHO QUE SOU ESSA MENINAZINHA QUE VOCÊ FALA COM TANTO CARINHO. AMEI O SEU CONTO LINDO!

A meninazinha via coisas do outro mundo... Em casa, as coisas de um mundo que não era dela. Refugiou-se na casa dos avós. Um dia, quis acampar. Falou para o avô que montou a velha barraca no quintal da casa grande. Ela adorou, era como se a simples barraca se convertesse no mais lindo castelo. Já dinoitinha, entre colchões e colchas, viu, pela fresta da barraca, um mundo encantado, quando um facho de luz de um amarelo vivo lhe dourava a face. Perguntou para o avô: “Vô, o que vem lá?”. O avô se ajoelhou, abriu a fresta com a ponta do dedo, olhou de um lado, de outro, e explicou: “ah, é um exército de abelhas minha filha que está sobrevoando o campo de girassóis!”. “Que lindo...”. Ela arregalou os olhos, quase espantada, levou as mãos ao rosto, quando as abelhas desceram, de uma só vez, por sobre o campo de girassóis. O avô explicou: “Elas agora vão colher o mel, cada uma vai pousar em cada flor de girassol”. Ela sorria... “Vô, o que é aquilo?”. “É que o cheiro dos girassóis com o zum zum zum das abelhas está formando um arco-íris”. “Nossa, que grande! Ele está vindo para cá... Será que vai molhar a gente?”. “Vai sim minha filha. Corre, corre, se esconde, debaixo das cobertas”. A meninazinha, entre risos e medo, deitou-se e se cobriu, tapando a cabeça, para adormecer e amanhecer banhada na mais pura e bela poesia...  



segunda-feira, 9 de abril de 2012

tristeza...

Hoje estou na fase do grande escritor Alberto Caeiro, quando ele diz " mas minha tristeza é sossego. porque é natural e justa.. e é o que deve estar na alma".

Quando estou triste, dessas tristezas que fazem o coração dormir, faço duas coisas: ou escrevo uma música ou sinto a dor que deve ser sentida. Porque é somente dessa maneira que ela se vai,

Então, hoje eu decidi sentir essa dorzinha amarga, mas que nos ajuda a entender tanto de nós mesmos.. e, decidi compartilhar algumas coisas:

"O tempo passou e chegou a hora de reacender a minha vela. E não é possível fazer isso sem pensar aqueles pensamentos que só se mostram quando a luz bruxuleante se acende. Que pensamentos pensarei? "


Mesmo triste, fico feliz em saber e concordar com palavras de queridos amigos, pessoas importantes pra mim. Eles dizem que amam o meu lado criança de ser. Que sou daquelas crianças que ficam pulando o dia todo e correndo na rua. Que minha alma é assim. E é verdade, essa frase de um amigo muito especial na minha vida e que esteve comigo em todos os momentos.

Parafraseando Alherto Caeiro, Rubem Alves disse uma verdade pura. As crianças são de novo nascidas a cada momento para a eterna novidade do mundo: mundo sempre novo, diferente, surpreendente, fantástico, assombroso, incrível, desafiante. "Decifra-me ou te devoro". E as crianças como Édipo diante do desafio da esfinge se dispõem a decifrar o mundo....


Amo ser essa criança, que, mesmo triste, sabe que existe muito ainda a sonhar, construir, realizar.... ainda há muito a viver...

Boa Noite a todos

Isabella

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Passarinho



Passarinho
Isabella Lage


Olha um passarinho
Bem ali perto do ninho
Na janela do meu quarto
Olha como é lindo
Ele está tomando banho
Será que hoje é sábado?

Eu não posso voar
Mas eu posso sonhar
Muito alto
Também posso correr
 No quintal me esconder
Nadar no lago

Como passarinho
Bem ali perto do ninho
Na janela do meu quarto
Saio do meu ninho
 Vou voar para bem longe
Bem mais alto

É assim que se faz
Se aprende a voar
Partindo
É assim que se cresce
Abre as asas, tropeça
Sorrindo
Pra voar...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dedicatória...


Tenho que agradecer à minha mãe, por ter me presenteado
há alguns anos, com um livro de Augusto Cury com a seguinte dedicatória:

" Eu, Eliana, dedico este livro à você minha querida filha.

Desejo que você
Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força, os fortes, a inteligência.
Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina,
pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas.
Seja um debatedor de idéias. Lute pelo que você ama."

Sei que minha mãe não vai ler essa postagem tão cedo,
está aprendendo agora a mexer em computador e internet. 
Mas na hora certa ela saberá que eu estou fazendo direitinho este dever de casa.

Mãe, 
quero que você saiba que hoje, depois de tantas histórias vividas, eu não tenho medo da vida. Não tenho nem um pouquinho. Aprendi a esperar passar todas as tempestades e aprendi a construir guarda-chuvas e albergues para me proteger. Com certeza, eu sei que existem acidentes em caminhos. como eu sei. Mas aprendi que são eles que nos fazem pensar. depois do dia 17 de maio, em que eu quase morri, eu percebi que Deus permitiu que isso acontecesse para que eu tivesse um tempo para parar e pensar o quanto eu preciso crescer. 
Hoje eu sou digna do pódio, pois eu aprendi com as minhas derrotas e continuo de pé. E, tenho certeza, mãe, que você sabe o quanto eu sonho. E o quanto eu dou valor aos meus sonhos. Aprendi em 2011 a sonhar com os pés no chão. A me amar de verdade e saber que eu, apenas eu, sou responsável pelas minhas alegrias e tristezas. 
Aprendi que Rubem Alves tem razão em tantas coisas quando ele diz que "Não basta o silêncio de fora. É preciso o silêncio de dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia"...
e hoje, eu ouço o que não ouvia. Eu ouço melhor meu coração. 
Tenho que te agradecer pelas alegrias de casa, mas principalmente, pelas dores que me causou. Muitas, sem querer, por sinal, mas que me ensinaram mais do que você imagina.
e foi por isso que eu escrevi minha última música: Passarinho.... pois aprendi, como diz a música, que "é assim que se faz... se aprende a voar.. partindo... É assim que se cresce, abre as asas e tropeça, sorrindo ... pra voar...".

Não sou carne, 
sou sonhos, sopros, criatividade, música, improviso,...
sou humana e vivo..
sinceramente... eu vivo..
obrigada por isso...

Isabella Lage

17 de maio de 2011. O dia do acidente? Não... foi o dia em que a Isabella nasceu de novo...