quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sobre Família...

Para todos os pais e mães, com muito carinho... um texto lindo do nosso querido Rubem Alves

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Faz uns meses acompanhei o que acontecia com um casal de corruíras e seus filhotes. Haviam feito um ninho no meu jardim. Os filhotes já sabiam voar. Menos um. Tentou o vôo. Fracassou. Caiu no chão. Pai e mãe, o pai num galho de árvore, a mãe no ninho, piavam. Acho que eles estavam dizendo: "Vamos! Tente de novo! Você pode!" O filhote tentou de novo. Bateu suas asas. Voou até o galho onde se encontrava o pai. Do galho, voou para o ninho, onde estava a mãe. No dia seguinte fui visitar a família. Olhei cuidadosamente dentro do ninho. Estava vazio. A família tinha partido. Acho que, para o casal de corruíras, a cena mais querida era precisamente aquela: o ninho vazio. Os filhotes não mais dependiam deles. Podiam voar, voar, por conta própria. 
Gibran Khalil Gibran, no seu livro, O Profeta, tem um lindo texto sobre os filhos que se tornou clássico. Nele ele diz algo mais ou menos assim: "Vossos filhos não são vossos. São flechas. Vós sois o arco que dispara as flechas". Bonito mas errado. Nossos filhos não são flechas. Porque flechas, ainda que disparadas, vão na direção que o arco indicou. Mas os nossos filhos não vão na direção que escolhemos. O certo seria:"Vossos filhos são flechas que, uma vez disparadas, se transformam em pássaros. Voam para onde querem".
Somos diferentes das corruíras. Ficamos no ninho e queremos que os filhos voltem. Você é ninho. Deseja que os filhos voltem, agradecidos. Mas os seus filhos estão descobrindo as delícias do vôo. O livro de Eclesiastes, sagrado, diz que "para tudo existe um tempo certo. Há tempo de abraçar, há tempo de deixar de abraçar". Você está vivendo o tempo de abraçar. Seus filhos estão vivendo o tempo de deixar de abraçar. 
A exigência de amor obrigatório são gaiolas. Pássaros fogem de gaiolas. Só amam as gaiolas pássaros que não sabem voar. Se formos apenas ninhos, sem gaiolas, eles voltarão. Não agora. Pois agora é o tempo da descoberta da liberdade. Pássaro que descobriu a liberdade não pensa nem no papai nem na mamãe. É preciso deixar ir para que eles queiram voltar. Voltarão, quando tiverem saudade. Acredite em mim. Não falo teoria. Falo experiência própria... Aprenda a ser você sem mendigar gratidão dos filhos. Aprenda a voar sozinha. São belas as aves que voam sozinhas."
Bem-aventuradas são as mães que vivem e ensinam aos seus filhos e filhas o amor que serve como fundamento, força e segurança para alçar o vôo em direção à independência e auto-afirmação. Bem-aventuradas são as mães que vivem do amor que é graça, isto é, que não exige retribuição.  Pois mães que vivem do amor que é graça, não vivem de presentes que se resumem a um dia especial. Mães que vivem do amor que é graça, sabem que o maior presente que podem receber de seus filhos e filhas é saber que estão caminhando na retidão e nas bem-aventuranças de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Ó Deus, faze-nos viver do amor que vem de tuas mãos. Amor que não espera dia especial nem ocasião específica, mas que alimenta e fortalece para que a vida seja uma bem-aventurança."

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