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Faz uns meses acompanhei o que
acontecia com um casal de corruíras e seus filhotes. Haviam feito um ninho no
meu jardim. Os filhotes já sabiam voar. Menos um. Tentou o vôo. Fracassou. Caiu
no chão. Pai e mãe, o pai num galho de árvore, a mãe no ninho, piavam. Acho que
eles estavam dizendo: "Vamos!
Tente de novo! Você pode!" O filhote tentou de novo. Bateu suas asas. Voou até o galho onde se
encontrava o pai. Do galho, voou para o ninho, onde estava a mãe. No dia
seguinte fui visitar a família. Olhei cuidadosamente dentro do ninho. Estava
vazio. A família tinha partido. Acho que, para o casal de corruíras, a cena
mais querida era precisamente aquela: o ninho vazio. Os filhotes não mais
dependiam deles. Podiam voar, voar, por
conta própria.
Gibran Khalil Gibran, no seu livro, O Profeta, tem um
lindo texto sobre os filhos que se tornou clássico. Nele ele diz algo mais ou
menos assim: "Vossos
filhos não são vossos. São flechas. Vós sois o arco que
dispara as flechas". Bonito mas errado. Nossos filhos
não são flechas. Porque flechas, ainda que disparadas, vão na direção
que o arco indicou. Mas os nossos filhos não vão na direção que escolhemos. O certo
seria:"Vossos filhos são flechas que, uma vez disparadas, se
transformam em
pássaros. Voam para onde querem".
Somos diferentes das corruíras.
Ficamos no ninho e queremos que os filhos voltem. Você é ninho. Deseja que os
filhos voltem, agradecidos. Mas os seus filhos estão descobrindo as delícias do
vôo. O livro de Eclesiastes, sagrado, diz que "para tudo existe um tempo certo. Há tempo de
abraçar, há tempo de deixar de abraçar". Você
está vivendo o tempo de abraçar. Seus filhos estão vivendo o tempo de deixar de abraçar.
A exigência de amor obrigatório são gaiolas. Pássaros
fogem de gaiolas. Só amam as
gaiolas pássaros que não sabem voar. Se formos apenas ninhos, sem gaiolas, eles voltarão.
Não agora. Pois agora é o tempo da descoberta da liberdade. Pássaro que
descobriu a liberdade não pensa nem no papai nem na mamãe. É preciso deixar ir
para que eles queiram voltar. Voltarão, quando tiverem saudade. Acredite em mim. Não falo teoria. Falo experiência
própria... Aprenda a
ser você sem mendigar gratidão dos filhos. Aprenda a voar sozinha. São belas as aves que voam
sozinhas."
Bem-aventuradas
são as mães que vivem e ensinam aos seus filhos e filhas o amor que serve como
fundamento, força e segurança para alçar o vôo em direção à independência e
auto-afirmação. Bem-aventuradas
são as mães que vivem do amor que é graça, isto é, que não exige retribuição. Pois mães que vivem do amor que é
graça, não vivem de presentes que se resumem a um dia especial. Mães que vivem
do amor que é graça, sabem que o maior presente que podem receber de seus
filhos e filhas é saber que estão caminhando na retidão e nas bem-aventuranças
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Ó Deus, faze-nos viver do
amor que vem de tuas mãos. Amor que não espera dia especial nem ocasião
específica, mas que alimenta e fortalece para que a vida seja uma
bem-aventurança."
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